SOMOS A TURMA TRICOLOR

O hino de um clube de futebol é o clamor da sua torcida, é a sua voz, é a sua alma. No caso do Esporte Clube Bahia, o seu hino tem uma importância ainda maior...talvez seja sua maior riqueza, pois extrapolou os limites normais e virou música carnavalesca enaltecida pelo som contagiante dos trios elétricos, cantado por todos, sejam estes torcedores tricolores ou não.

Apesar de ser muito cantado e muito executado, a história de sua criação é pouco conhecida e merece ser contada:

Em 1946, o professor e jornalista Adroaldo Ribeiro Costa foi procurado por um grupo de torcedores, liderados por Amado Bahia Monteiro, que tinham a intenção de criar uma torcida uniformizada e queriam que ele criasse um canto que animasse a turma. E ainda pediam pressa, pois aproximava-se um jogo com o Vitória e teriam que ensaiar a moçada.

A idéia agradou tanto ao professor Adroaldo (entusiasmado pelo Esquadrão de Aço) que no dia seguinte, já estava em casa tentando compor a música com um piano. Para conduzir sua criatividade, lembrou-se que deveria compensar a inferioridade numérica da torcida do Bahia, na época, com um canto que passasse vibração e emoção, característica da pequena, mas entusiasmada torcida tricolor. Daí nasceram os primeiros versos:

“Somos a turma tricolor,
Somos a voz do campeão,
Ninguém nos vence em fervor,
Ninguém nos vence em vibração...”

Pelo seu início de vida arrasador, com muitos títulos e pelo incentivo de sua torcida que tinha um grito de guerra tradicional: “Bahia! Bahia! Bahia!” ele teria que caracterizar isso na canção:

“Vamos, avante, esquadrão!
Vamos, serás o vencedor!
Vamos, conquista mais um tento!
Bahia! Bahia! Bahia!
Ouve esta voz que é o teu alento!
Bahia! Bahia! Bahia!”

O Bahia assinalava tentos e a torcida, frenética, insatisfeita, reclamava: “Mais um! mais um, Bahia! E os títulos e os troféus, iam formando a lista e a galeria mais extensa e mais rica de todo o Nordeste do país. O motivo não poderia deixar de ser aproveitado:

“Mais um! Mais um, Bahia!
Mais um, mais um título de glória!
“Mais um! Mais um, Bahia!
É assim que se resume a tua história.”

Arrumada a letra, pôs-se a dedilhar o piano. E, em poucos minutos, a melodia brotou. Um retoque aqui, outro ali e, em menos de meia hora, estava tudo pronto. Logo ao acabar de cantá-lo, seus pais vieram até a sala e perguntaram: “- Que música bonita é essa?”.
Ouviram novamente e amaram, sendo os primeiros a escutarem.
O grupo da torcida organizada gostou muito. Aprenderam, copiaram a letra e levaram para os ensaios. Porém, a torcida uniformizada não vingou e o hino caiu no esquecimento.

Cerca de dez anos depois, João Palma Neto, dirigente do Bahia na época, planejou a campanha dos 10.000 sócios, apoiado numa vasta publicidade. Para dar apoio a essa campanha, precisavam de um canto vibrante. Daí, foi resgatado o hino original com uma mudança no terceiro verso que era: “Ninguém nos vence em fervor,” que foi substituído por: “Somos do povo um clamor”.

O maestro Agenor Gomes fez a instrumentação para a banda, João Palma Neto arregimentou um coro de torcedores, conseguiu a Banda do Corpo de Bombeiros e realizou a gravação.

Quando o hino foi entregue ao Bahia, Adroaldo Ribeiro transferiu para o clube todos os proventos que lhe fossem devido pelos direitos autorais. E impôs a condição de que não fosse revelada a autoria da música. Ele queria que fosse considerado um canto espontâneo, nascido da torcida. Algum tempo depois, o segredo terminou sendo revelado pelo próprio autor mantendo, entretanto, o compromisso quanto aos direitos autorais.

Procurado por outras agremiações para compor cantos, Adroaldo Ribeiro confessou que não poderia atender a esses pedidos, porque não sabia fazer aquilo que não sentia.

Fonte:
Livro Bahia de Todos os Títulos
Carlos Casaes e Newton Calmon